domingo, 17 de outubro de 2010

Capítulo 8- Tritões se completam- Parte 3

No dia seguinte, não perdemos tempo. Disse pra mamãe que ia na casa do Guto e sai. Liguei para o pessoal e marquei um encontro na beira mar. Quando cheguei na praia, eles já estavam na areia me esperando. Tiramos os tênis e entramos de roupa e tudo dentro do mar.

Os peixes pareciam agitados. Todos passavam apressados. Como se estivessem fugindo de alguma coisa.

"Que é que tá pegando?" Guto perguntou enquanto nadávamos sincronizadamente.

"Hoje é lua cheia. Hora ótima pra feitiços e magias. " Norato falou. Isso me deu arrepios. Será que hoje seria pior que a experiência não tão boa com a maluca ( mas gostosa) da irmã dele? Nossa, a duvida estava me matando.

"Lembra onde é o caminho, Pedro?" Samuel perguntou mentalmente.

"Com toda a certeza." Respondi firmemente.

"Então vai na frente. " Ele disse. Assumi a frente do grupo, impulsionei a cauda para cima, coloquei os braços pra trás e mergulhei novamente no vácuo da água, nadando tão veloz que as bolhas pareciam queimar ao meu redor. Meus amigos fizeram exatamente o mesmo, em diferentes posiçãos. Guto ergueu os braços com as mãos juntas para frente, como um golfinho. Os braços de Norato estavam erguidos mas separados na sua frente, e Samuel dava braçadas constantes debaixo d'água.

Chegamos à clareira de pedras. Os muiraquitãs estavam expostos na pedra, como moedas em pedestais. Nos aproximamos e tocamos nas pedras. A jade era tão quente e confortável. E era minha, com toda a certeza. Vi que Norato e Guto se afeiçoaram bem à água-marinha e a turmalina. Mas nossa felicidade durou pouco.
Olhei para o chão e vi uma grande sombra de algo caindo. Olhei para cima e vi as listras de uma rede. Nós quatro fomos envolvidos por uma grande rede de pesca. Enquanto os outros se debatiam, olhei para fora e vi os Filhos De Kraken sorrindo satisfatóriamente.
"Vamos levá-los ao pai." Um deles disse. E nos arrastaram para longe.
Quando abri os olhos, vi que estávamos presos em uma enorme parede enfeitada de tinta branca e bem à nossa frente estava um enorme buraco. Na sua margem, milhares de Filhos de Kraken jaziam de "joelhos" perante ao buraco, como se esperando que algo majestoso saisse dele. Então, um Filho de Kraken maior, talvez o líder deles, com um coque indígena feito de algas na cabeça ergueu os braços, causando grunidos de louvor da plateia.
"Irmãos! " Ele pensou. Ouvimos perfeitamente. " É chegada a hora que tanto esperávamos. Nosso pai, o poderoso, indestrutivel e incomparável Kraken subirá das profundezas e dominará o Oceano mais uma vez!!"
Dizendo isso, mais grunidos ecoaram.
Eu estava com muito medo. Simplesmente não sabia o que fazer.
E pensar que eu estava com tédio de minha vida de humano.
"Temos salvação?"Norato perguntou-se. Ele virou os olhos para Guto, que virou os olhos para Samuel, que virou os olhos pra mim. Apenas acenei com a cabeça. "Não sei."

Então, vi nossas pedras ao longe. E vi que, atrás delas, o reflexo da lua aparecia no outro lado do horizonte. Apesar de fraca, sua luz refletia-se com um tamanho esplendor, que senti seu poder preencher-me da ponta do meu último fio de cabelo até a ponta da minha barbatana.
"Pedrooo...."

Uma voz linda ecoou em minha cabeça. Uma voz de mulher. Levei um susto.
"Vocês ouviram isso?" Perguntei mentalmente. Meus amigos se assustaram também.
"Eu ouvi. " Os três pensaram juntos.
"Uma voz falou meu nome..." Samuel pensou.
"Não, foi o meu nome. " Retruquei.
"Era a voz de um homem. E eu conheço essa voz de algum lugar.

Os filhos de Kraken preparavam-se para começar o ritual, mas viram com espanto que as pedras mágicas começaram a flutuar na água. O Filho de Kraken líder nadou veloz até elas e tentou pegá-las. Mas foi inutil.

"Onde estão indo?!!" Ele esperneeou mentalmente. Sorri do meu canto.

"Para seus verdadeiros donos."

E com essas minhas palavras, espíritos enormes saíram de dentro dos muiraquitãs. Do peixe vermelho de Samuel, saiu um enorme Pirarucu resplandecente, que nadou ferozmente até ele, envolvendo-o e soltando-o das cordas da pedra. Da turmalina-rosa saiu um golfinho rosado brincalhão, que nadou em circulos até Guto. Da tartaruga cor àgua-marinha saiu uma serpente com cauda e rosto de peixe. Ela nadou até Norato graciosamente e o circulou dançantemente. E por fim, do meu sapo de jade saiu uma linda, maravilhosa e enorme sereia verde, que veio nadando graciosamente até mim. Ela era abstrata, impossivel de se tocar, mas assim que envolveu-me com seus braços e perfume, senti-me poderoso e confiante.

Os espiritos se dissolveram e nós nadamos até a outra margem.

"Não vai ser hoje nem nunca que seu papai vai tomar conta do pedaço." Pensei. Não, não pensei. Minhas palavras ecoaram para fora, sem eu nem mexer a boca. E surpreendi-me do quanto parecia confiante. Então, vimos um enorme tentáculo aparecer de dentro do buraco. Ele procurava a margem, para erguer-se e mostrar a forma monstruosa do Kraken.

"HAHAHA!! Nosso pai vive! Vive!!" O líder gritou mentalmente, fazendo todos vibrarem. Guto rosnou e virou-se para todos os carinhas com cara de polvo. Abriu a boca e soltou seu grito ULTRA MEGA sônico na direção deles. Os monstros foram varridos dali, nadando para longe assustados. Mas eles não eram mais nossa principal preocupação. O Kraken estava despertando.

"Tritões, vamos nessa!" Eu falei. Nós quatro nadamos para cima do tentáculo, que ainda lutava incessantemente para sair. Olhei para Norato, e ele entendeu meu comando. Ele nadou até o outro lado do tentáculo e lhe deu um suco de Boxe super potente, fazendo-o chocar-se com a parede e rachá-la. Olhei para Samu. Ele acentiu, e apertou os olhos para o tentáculo. Seus olhos começaram e ficar vermelhos, e ele usou seu poder de telecinésia, fazendo o monstro se contorcer como uma minhoca no anzol. Era minha vez. Ergui as mãos, juntei toda a força que pude, e joguei em cima do tentáculo. A coisa chacoalhou-se e finalmente caiu no buraco novamente. Guto deu o toque final. Ele soltou um grito tão alto e estridente que a parede de pedra desmoronou toda e tampou o buraco. Para sempre.

"Cara... Olha só pra nós!" Guto exclamou. Olhei para minha cauda, e vi que continuava a mesma, tirando o fato de ter um cinto preto e jade na cintura, pulseiras pretas cobrindo todo meu antebraço, e uma tatuagem de onda ANIMAL MESMO no meu braço. Olhei para meu peito e vi que meu muiraquitã estava lá, num colar igual ao do Samuel. E meu irmão... Ele tava foda! A cauda vermelha-vinho bem escuro, com um cinto preto com pedras de rubi na cintura, ombreiras de rubi, e uma tatuagem em forma de marcas de garra em seu peito musculoso. Norato também estava fodástico! Em sua cintura estava um cinto preto com pedra de água marinha, com luvas de boxe feitas de água-marinha, e uma tatuagem de corrente marinha no peito. Guto não estava nada mal também. Com o mesmo tipo de cinto, uma tatuagem de ponta de flecha no ombro e protetores de braço rosa cobrindo seus triceps.

Nós conseguimos. Hoje, um domingo, nos reunimos aqui em casa. Ficamos ouvindo música, tomando Coca e assistindo jogo de futebol na TV. E quando foi o gol decisivo, do BRASIL ( PEnsa na gravidade) ficamos tensos. O artilheiro seguiu... Bateu pro gol... E...

-GOOOOOOOOOOOOOOOOOOLL!!!!! - Guto esperneoou. E no mesmo momento, um vaso velho da minha mãe se estilhaçou.

-Cê vai limpar, viu moleque?- Avisei a ele. Depois, fomos correndo pra piscina, querendo curtir o jogo. Mas... Não nos transformamos. Logo me deu um susto.

-O que é que houve? - Perguntei, já ficando com medo. Samuel riu e disse:

-Macho, esqueci de te falar. Não precisamos mais ter medo de água!

-O quê? - Não acreditei no que estava ouvindo.

-É isso. Os muiraquitãs nos deram mais poder, sabe. E com aqueles enfeites, de armadura de cristal e tudo.... Quer dizer que podemos nos transformar quando quisermos. - Samuel falou animado.

Gritamos um UHHUUUUU gigante e jogamos água uns nos outros, aproveitando pela primeira vez depois de tanto tempo nadar com pernas.

Agora tudo está completo. Nada mais me falta.

Mas eu sei que não acaba por ai. É só o começo.

E minha vida de tritão passa de inferno total para o melhor inferno que já tive.

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