segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Capítulo 9 - Tritões tem namoradas Parte 1




Hoje a aula de Física estava muito chata mesmo. Metade da sala estava de cabeça baixa, enquanto a Camila e o Norato tentavam prestar atenção. Bom, não exatamente... O Norato prestava mais atenção na Camila do que na aula. Ela era uma garota baixinha, gordinha mas bem gatinha. O garoto tava mesmo gamado nela. Dava até pra ver os coraçõeszinhos no ar.

Na hora do recreio, Norato, Samu e eu nos reunimos no banco atrás da quadra, botando o papo em dia.

-Eu tenho uma queda por meninas inteligentes. Elas são tããão boas! - Norato cantarolou, me fazendo rir. Samu olhou para longe e sorriu, balançando a cabeça em sinal de censura. Segui seu olhar e vi Guto falando com uma garota que eu nunca vira na vida. Parecia que ele estava encantando ela ou algo assim, a garota estava encostada na parede e ele apoiando-se nela e armando esquema. Meu irmão... O cara é profissional.
-Parece que alguém não se satisfaz só com uma garota. - Samuel falou sarcasticamente.
-Não acredito que ele tá fazendo isso. - Falei.
-Ei, o Guto não tem namorada? - Norato perguntou.
-Por isso mesmo! - Respondi. - Isso não vai acabar bem.
Guto despediu-se da garota e se aproximou de nós, sentando no banco ao lado de Samuel. Nós três nos viramos para ele e o encaramos com cara de acusação. Ele sorriu um minuto e depois pendeu o pescoço pra trás.
-Quê que é, pô? - Ele perguntou.
-Já ouvi falar mesmo que boto cor de rosa é garanhão. - Samuel disse. Guto sorriu e relaxou no banco, pondo os braços para trás dos ombros.
-Ah, isso. Não é nada não. É só a vida.
-Mas e a Teresa? - Perguntei. Guto ergueu-se do banco e olhou sério para nós.
-Mano, a Teresa é a minha princesa, minha gatinha. Não se compara e nenhuma dessas. As outras são só... Divertimento, rapaz. Nada demais, não.
Porra! Franzi a testa de tanto choque.
-Macho, como é que tu pode falar isso? Além de trair ela você tá desvalorizando o sentimento das outras guria, qualé, mermão! - Falei, começando a me irritar.
"Essa vai dar barraco... " Samuel pensou para Norato.
"Tô vendo." Ele respondeu.
"Eu ouvi essa. " Guto e eu repreendemos os dois, apertando os olhos para eles.
-Cara, eu sei que namoro na nossa idade não é pra ser levado tão a sério, mas já que você gosta mais da Teresa, fica só com ela. Como cê acha que ela vai se sentir se por um acaso descobrir que você fica com um monte de meninas?- Perguntei. A expressão de Guto ficou ainda mais séria.
-Tu num vai falar pra ela não, vai?
-Claro que não, cara. Mas e se alguém descobrir? E se as amigas dela contarem? Vai ser bem pior, não acha? - Falei. Guto olhou para os lados, parecendo envergonhado.
-É... Você tá certo. - Ele admitiu. Então, depois dessa conversinha revigorante, saímos os quatro juntos para a aula. Norato olhou para trás, olhando cada rosto que passava.
"Que foi?" Perguntei mentalmente.
"Não, nada. Achei que a gente tava sendo seguido. Mas foi impressão."
***********************
Caraca, o dia hoje foi péssimo. O Guto tá puto comigo. Começando:
Tudo começou hoje no recreio. Samuel e eu estávamos comendo sanduíche e falando sobre HQ. Ele disse que tem a coleção completa de Sandman. E claro que ele vai me emprestar. Então, o Norato veio correndo até nós. Ele estava esbaforido.
-Que é que foi, Norato? - Samuel perguntou.
-Gente... O... Guto... - Ele tentou falar, apontando com o polegar pra trás.
-O que é que tem ele? - Perguntei, já ficando nervoso. Norato respondeu, apenas nos chamou com a mão, mandando que o seguissemos. Corremos até uma parte do pátio perto das flores. Ele parou atrás de uma coluna, e Samuel e eu fizemos o mesmo. Guto estava junto de Teresa. Ela parecia estar P da vida.
-Eu não acredito que você fez isso, Gustavo! - Ela exclamou.
"O Guto se chama Gustavo? Dessa eu não sabia." Norato pensou.
-Mas amor, eu...
-Não me chama de amor! - Teresa esperneou. - Tá me achando com cara de quê? Fica pegando tantas meninas e ainda diz que gosta de mim! Você é um canalha!- Ela disse, com lágrimas nos olhos. Deu mesmo muita pena dela. Mas ao olhar pra cara do Guto e ver a grande angústia estampada nele, senti um aperto no estômago e no coração. Ele estava mesmo sofrendo com tudo aquilo.
-Mas é verdade, Tezinha! Eu amo voc... - Guto começou. Mas o tapa que Teresa lhe deu na cara calou sua boca. Samu e eu levamos as mão à boca, enquanto a de Norato se escancarou ainda mais.
Teresa ainda deu uma ultima olhada nele e começou a se virar.
-Não, espera. Não faz isso... - Guto começou a suplicar. Mas Teresa já estava com o rosto encharcado de lágrimas.
-Me faz um favor? Nunca mais olha na minha cara. - E saiu do pátio.
Fiquei totalmente sem palavras. Guto ficou no canto, parado, observando-a ir embora. Depois, olhou para a esquerda e nos viu. Eu comecei a abrir os braços e lhe dar um abraço de conforto, mas ele aproximou-se de mim e me deu um empurrão.
-Tu falou pra ela, não foi? Tu falou pra ela, não foi, filho da mãe! - Ele exclamou.
-Epa! Epa! Calma aê - Samuel entrou no meio, segurando Guto, mas ele se soltou dele.
-Foi um de vocês, né? Só pode ser, só vocês sabiam!! - Ele falou, apontando para nós. Em seus olhos vi o brilho das lágrimas.
-Eu não falei pra ela! Nenhum de nós falou pra ninguém! - Eu falei alto. Mas Guto falou mais alto.
-Então quem foi? Hãn?!! Sabe de uma coisa, vão pra merda vocês todos! - Ele bravejou. Foi trotando pra longe, pondo o braço no rosto para esconder as lágrimas. Cara, depois dessa até eu tive vontade de chorar. O Guto é meu melhor amigo, ele nunca foi tão grosso assim comigo.
-Bem que ele precisava de uma lição, hein? - Uma voz conhecida e mais desagradavel impossivel soou atrás de nós. Davi estava debruçado na parede nos observando na maior cara de pau. Foi ele. Aquele filho de uma vaca!
-Foi você, num foi? Ahh, mas é HOJE que eu quebro a tua cara.... - Eu falei, começando a avançar nele, mas Norato e Samuel me seguraram pelos braços.
"Calma, calma! É isso que ele quer!" Eles pensaram.
-Eu só fiz uma boa ação,né pessoal? O amigo de vocês não tava comprindo bem seu papel de namorado, só fiz o que qualquer um faria. - Ele falou. Samu, Rato e eu o fuzilamos com os olhos. Ele riu. - E, quem sabe, eu possa dar pra Teresa o que o Guto não pôde dar, né?
-Até parece que ela vai te querer! - Norato disse. Davi riu e desfez o sorriso.
-Vamos ver, né? - E foi pra sala de aula.
Nós três ficamos nos olhando, sem saber o que fazer.

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